A vida é sempre uma ocasião que devemos comemorar com grande amor e alegria. Gerar a vida e trazê-la ao mundo é uma benção que recebemos e podemos transformar em um divisor de águas em nossa existência. Enquanto somos um casal, a vida segue de uma forma. Quando um pequeno ser, feito de ingredientes de ambos, chega a este planeta, nasce um filho, uma mãe, um pai e uma família.
A primeira grande lição é que o tempo ganha um novo sentido. No início quase não aparece a barriga, depois ela cresce, torna-se grande, imensa e... A gente sente falta dela. O tempo passa rápido e recorrentemente a gente sente vontade de reviver aquele estado de plenitude do corpo e alma, dos hormônios abundantes, da vida que é múltipla.
Nove meses voam. Tem o enjôo do começo para algumas, o inchaço dos pés no final para muitas. A sensação incrível de ter alguém dentro da gente, nutrindo-se do nosso amor. E é neste momento que devemos despertar para a experiência mais importante: o nascer.
Como tudo neste mundo, podemos seguir a maré do comum. Mas se queremos ir além, o nascimento pode ser uma experiência orgânica e sagrada. A situação da obstetrícia no Brasil é preocupante. Temos uma das maiores taxas de cesarianas do mundo. A cesariana é uma cirurgia que guarda todos os riscos para mãe e o bebê, que por vezes nem está "maduro" para nascer. Na contra-mão existem pessoas buscando uma nova forma de trazer uma vida ao mundo, respeitando o tempo da mãe e do bebê, com técnicas menos invasivas, para fazer do nascimento um ritual sagrado.
Não podemos controlar todas as experiências que nossos filhos passarão, mas podemos fazer da primeira a menos traumática e a mais acolhedora possível. Vocês sabiam que um bebê pode nascer com 42 semanas ou mais? Que ultrassom pode causar problemas para o bebê? Que cordão enrolado no pescoço não é motivo para cesárea? Que bebês grandes podem nascer de parto normal, que toda mulher tem dilatação? Certamente vocês já devem ter ouvido essas e outras justificativas para cesáreas de conhecidos.
Desde que o parto passou a ser um evento hospitalar, o corpo da mulher foi institucionalizado. A parturiente deixou de ter o apoio de outras mulheres e hoje ela é uma paciente, geralmente de um médico. Há poucos, a contar nos dedos da mão, que estão preparados para um parto mais humano. Humano porque sabem que há diferenças entre os seres humanos. Uma mulher pode entrar em trabalho de parto com 39 semanas e outra com 43. E ambas estão em seu tempo. Vocês sabiam que a primeira mulher a ter um parto na posição deitada foi a rainha Vitória, para que o rei pudesse assistir ao nascimento de seu herdeiro? E que a raspagem de pêlos a que somos submetidas, assim como a lavagem intestinal e o corte do períneo são procedimentos desnecessários que causam constrangimentos para uma mulher em vias de parir?
A posição mais adequada é aquela que seu corpo pedir: de cócoras, de quatro, apoiada pelo companheiro. Ah, o companheiro! Em alguns hospitais nem permitem sua entrada. Mas em um parto humanizado ele é um ator importante, lhe faz massagem nas costas, segura sua mão, lhe dá forças quando a sua parece estar no fim. E quando o bebê chega... Nada de ter o cordão cortado rapidamente, ser limpo, ter as vias respiratórias sugadas, o anus violado, os olhos cegados com um colírio, a perna furada com uma injeção de vitamina K. Em um parto humanizado o bebê nasce em uma sala escura, ao som da música que escolher, cercado apenas de pessoas que lhe derem segurança. Ele nasce e ainda com o cordão vai para o peito. Algumas vezes não choram, afinal estão no melhor lugar do mundo, perto do coração de sua mãe. Quando o cordão pára de pulsar, o pai rompe a ligação que nunca se desfaz. E ficam os três, renascidos e em êxtase, experimentando o maior presente que Deus nos deu: a vida.
A mulher renasce porque alguém acreditou em seu corpo, ela experimentou todas as sensações em sua carne. Às vezes no lugar da dor pode experimentar o prazer. E este fato é um referencial na maternidade: se posso parir, posso qualquer coisa.
O homem renasce como pai, que não é aquele que apenas recebe a notícia do lado de fora, mas acompanha com um verdadeiro companheiro o nascimento.
Meus amigos, tudo que nos transforma a gente quer multiplicar. E esta carta, cada palavra que aqui deposito é como uma semente que planto de uma experiência que vivi e transformou profundamente meu ser. Que vocês possam viver esta experiência!
Com Amor
Por Drika Cerqueira
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